Mães abusivas
Fabíola Sperandio
Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e
Casais
Neste artigo quero abordar
sobre os abusos cometidos por algumas mães na vida dos seus filhos. Sim!
Existem mães abusivas! E, por incrível que pareça, em meio aos abusos
encontramos presente o AMOR. Mas, poderia também chamar pais abusivos, avós
abusivos, responsável abusivo. Afinal, esta escrita vai para aquele que
participa da criação de um ser e nesta criação, cometem abusos que irão
interferir na sua formação.
Poderia também utilizar o
termo mães vampiras, até ficaria mais na moda, uma vez que os filmes / sagas
estão tão presentes em nossas vidas e de nossas crianças e adolescentes, de
repente até ficaria mais atrativo. Mas, vamos lá! Mães abusivas ou vampiras são
aquelas que sugam a energia de suas crias, são psicovenenosas, não conseguem
perceber que estão sugando toda a autoestima de seus filhos quando os
superprotegem ou oferecem críticas severas sobre o seu comportamento.
Essas mães alimentam da
fragilidade de seus filhos, sugando toda possibilidade do crescer saudável até
para que se sintam úteis ou boas provedoras educacionais. Estranho, não é?
Porém é exatamente isso que fazem. Muitas vezes humilham seus filhos em público
para ter a oportunidade de expor uma ação de comando e parecer que estão
atentas ao processo educacional dos filhos.
Essa personalidade
venenosa procura até nos momentos de vitórias algo que não está bem para que o
negativo sobressaia. Exemplo: a criança conseguiu notas acima da média em 8 das
10 disciplinas, nas outras duas manteve-se na média escolar. A mãe venenosa só
fala das notas medianas, cobra excessivamente de seu filho e ainda conta para
todos que ele não está bem na escola, não percebendo que essa atitude só o faz
sentir que está sempre “devendo” e que a dedicação nas demais disciplinas nem
foi notada.
Mães venenosas também
estão sempre irritadas, intimidadoras e desestabilizadoras. O perfeccionismo e
a agressividade podem transformar a vida de todos a sua volta em um caos, uma
condição completa de ausência de paz. Utilizam muito a agressividade verbal
para tornar o outro um ser pequeno, fraco, incapaz e muito inseguro. Assim,
sentem-se poderosas e atacam-nos repetindo o padrão de comportamento
diariamente.
A impressão que passam é
que, dificultando a vida do outro, possuem mais utilidade, mais serventia e
mais necessidade de estarem por perto. Qualquer tentativa de independência do
ser que está sobre a sua custódia é uma afronta ao seu papel.
Percebe-se um amor egoísta
e interessado em suas atitudes, e todo esse movimento se torna bastante
sufocante e destrutivo. Muitas famílias não percebem esse relacionamento
destrutivo e acabam por coparticipar, tornando a vítima estendida aos demais
familiares.
Atendendo mães abusivas,
pude perceber que são pessoas muito inseguras, com necessidade de controlar
tudo, uma ansiedade além da normalidade, muitas vezes solitárias, que não
conseguem encarar as suas próprias limitações e deficiências e que projetam no
outro tudo o que não conseguiram ser ou que conseguiram com muito esforço e
sofrimento.
Daí vocês podem estar se
perguntando: a pessoa que tem uma mãe abusiva então está condenada? Não! É
possível lidar com essa mãe venenosa! A primeira coisa a ser feita é detectá-la.
Depois, quebrar o círculo do abuso. É claro que, para percepção e quebra desse
círculo, a criança precisará de ajuda de familiares que percebam e estejam
dispostos a enfrentarem a situação e profissionais capacitados. Já os adultos
que vivenciaram até essa fase as ações da mãe, precisam reconhecê-la e
enfrentá-la com sabedoria.
Reconhecer a manipulação
não é nada fácil, primeiro porque pode ser muito sutil e depois porque a pessoa
acaba por se perceber fraca por ter caído por tanto tempo. Então, vitimizar ou
deixar a manipuladora se fazer de vítima, não ajudará em nada. Encarar sua
fragilidade e a “doença” de sua mãe é o primeiro passo para dar o basta. Mães
abusivas possuem uma tendência de mostrar-se sofredoras, feridas e
incompreendidas em suas intenções, mas não podemos tirar o foco dos filhos, os
mais feridos são eles.
Algumas dicas são
importantes para perceber se temos ao nosso lado ou ao lado de alguém que
queremos bem, uma pessoa abusiva: mãe, pai, irmão, avós, cônjuge, chefe...
1- Ao perceber que algo não está legal na forma
como você se sente com a pessoa que está lhe falando/tratando, comece a notar a
situação que te trouxe desconforto. Anote a frase, o gesto, o tom, aquilo que
ficou latente.
2- Registre, também, o comportamento individual da
pessoa em situações que poderiam ser agradáveis e não foram: momentos de
premiação; festividades familiares; viagens; passeios. Observe por que a pessoa
não interage com alegria e entrega. Por que parece tão armada? Procure ficar
fora da cena para percebê-la.
3- Outro registro necessário é anotar os gatilhos
do descontentamento da pessoa. O que dispara a insatisfação? O que gera
irritação? Não fazer o que ela quer? Não compactuar com alguma ideia? Não
permitir a manipulação?
4- Observe se, além de você, outras pessoas passam
pelos abusos. Perceber que você não é o único pode fortalecer (favorecer) para
enxergar as dificuldades da abusadora. Claro que percebendo não resolverá a
situação, você poderá alertar as outras vítimas e juntos buscarem recursos para
mudanças de comportamento emocional de todos os envolvidos, incluindo o
abusador. “Muda que o outro muda”, as vítimas mudando, o abusador ficará sem o
papel complementar. Só há o abusador porque existe o abusado. Certo?
Ser filho ou fazer parte
da vida de uma pessoa infeliz e abusiva é muito difícil, mas não impossível. A
partir da consciência do que está ocorrendo, torna-se mais fácil promover ações
de reversão do quadro.
Buscar entender que as
agressões verbais e as intolerâncias que tanto contribuíram para o adoecimento
emocional, que essas “feiuras” não pertencem a você e sim ao agressor, lhe
permitirá reagir e lutar. Compreender, também, que abusador e abusado precisam
de suporte e ajuda é um passo para relação saudável de todos os que estão no
ciclo.
Os profissionais que lidam
com a educação, ao se depararem com uma mãe abusiva, têm o dever de orientar
quanto à busca de uma ajuda profissional. Procurar aliviar a dor da criança
nesse quadro que ela se encontra é essencial.
Outra ação importante é
não cairmos no erro de comparar as mães abusivas com as mães amorosas. Aceitar
a situação e tratá-la é a atitude mais certa e saudável.
E, por último, quero
ressaltar que ao chegar a vida adulta e decidir por afastar-se um pouco da
rotina da mãe abusiva que, após todas as suas tentativas, não conseguiu
evoluir, não se sinta culpado. Às vezes o afastamento é necessário para o
amadurecimento de todos e para a busca de uma vida harmoniosa e feliz.
E viva a oportunidade que
temos de escolha quando temos consciência do que nos faz mal!
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