Por
que insisto em comparar o meu filho com o filho da minha melhor amiga?
Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Mal a criança nasce, já podemos perceber a inquietude dos
pais em observá-la e compará-la com as crianças mais próximas da família. Por
que precisamos agir assim? Provavelmente porque buscamos parâmetro e porque
somos inseguros e muito competitivos também. O certo é que são raras as pessoas
que não caem nessa tentação de acreditar na “normalidade” do filho a partir da
comparação com o outro do outro.
Sabemos que ao longo da sua vida infantil, é muito comum que a criança, em determinado momento, apresente uma dificuldade ou uma facilidade em alguma etapa de sua vida, se comparada à maior parte delas
na sua idade. Claro! Somos diferentes! Cada criança terá o seu movimento de
crescimento, o seu tempo de amadurecimento e, embora os escritos científicos
norteiem o que acontece em cada fase, essas orientações não são determinantes e inflexíveis. Cada lar, com seus hábitos e costumes, será determinante para
desenvolver características únicas de crescimento da criança.
A sua melhor amiga poderá exemplificar que o seu filho andou
aos 10 meses, mas isso não poderá trazer angústia caso o seu filho ainda leve
de três a quatro meses para alcançar tal façanha. O mesmo ocorre com a fala. Já acompanhei
crianças que levaram mais de 2 anos para começarem a falar. O desenvolvimento aparentemente tardio, poderá ficar
invertido se as mesmas amigas continuarem juntas no período escolar. Poderão
perceber que as diferenças dos filhos se inverteram, por exemplo, o que foi
desenvolto no início da infância, agora demostra dificuldade ao ler e escrever.
É preciso esclarecer que nada disso é critério para medir inteligência,
síndromes, doenças, a não ser que haja uma diferença bastante significativa e a
observação vá além dos muros da família, estendendo à escola e demais
ambientes frequentados.
Vários são os fatores que podem frear a evolução do
aprendizado de uma criança pequena: chegada de um novo irmãozinho, mudança na
rotina familiar, separação dos pais, saúde que requer muitos cuidados, isso sim pode exigir uma
maior atenção na formação cognitiva da criança (ato de processar o conhecimento
envolvendo atenção, percepção, memória, raciocínio, imaginação, pensamento,
juízo, linguagem e ação). É bem normal uma criança retomar hábitos de bebê
quando o irmãozinho chega (voltar para fraldas ou retomar a mamadeira) ou quando os pais se separam,
por sentirem-se inseguros.
Quanto mais naturalmente a família agir, mais rápido a
criança retomará seu crescimento. Como o adulto que, em situações estressantes,
requer compreensão e auxílio, a criança também precisa de cuidados. Esses
cuidados precisam ser trabalhados para a retomada dos hábitos sadios. Não
devemos ter atitudes de compaixão que soarão como ganho secundário da atitude regredida. Se a família se
sentir culpada por algo, a criança entenderá o sentimento e acabará por ter
ganhos. É verdade! Mesmo pequenos são capazes de nos manipular.
Permitir à criança expressar que algo não está bom facilitará
a compreensão e norteará o caminho para a solução. Olhar para essa criança
enviando sinais de que a está entendendo e não a vê como uma criança problema,
também facilitará o processo. Muitas vezes a criança apresenta a queixa, mas os
problemas encontram-se nos familiares que convivem com ela.
Se visualizarmos a criança de hoje, inserida em um lar onde
os adultos não as poupam de nenhum assunto, podemos concluir que a sua
imaturidade, própria da sua idade, a impedirá de digerir, assimilar, processar e seguir em frente
diante dos problemas familiares expostos. Na instituição escolar, nos deparamos com crianças
que apresentam atitudes agressivas ou de retração e, ao investigarmos, acabamos por perceber como estão afetadas emocionalmente,
deixando muito evidente que o atraso do desenvolvimento não tem ligação nenhuma
com ausência de capacidade de aprendizagem e sim, uma falta compreensível de
maturidade para lidar com as emoções geradas em seu meio familiar. Dessa forma, fica muito injusto compararmos o desenvolvimento das crianças em qualquer fase de sua vida. O filho de sua melhor
amiga está inserido em um contexto completamente diferente do seu.
Então, você pode estar se perguntando: no que diz respeito ao desenvolvimento do nosso filho, como
devemos proceder? Precisamos recorrer aos profissionais que asseguram o
conhecimento de cada etapa em que nosso filho se encontra: pediatra, pedagogo, psicólogo, terapeutas, neuropediatra e o principal,
ter a consciência de que, enquanto estou focado no filho do outro, deixo de ver
o meu filho em sua essência, em suas necessidades.
Observar a dinâmica familiar é de suma importância para o
crescimento saudável da criança. Não me surpreenderá se ao analisar o ambiente
em que a criança está inserida, a família chegue à conclusão de que quem
precisa de ajuda são os cuidadores da criança. A terapia familiar revela grande parte do
caminho saudável do desenvolvimento do filho. Não se acanhe em buscar ajuda quando a dúvida invadir sua vida e tirar a
sua paz diante de qualquer situação com seu filho. Tudo o que é acudido
prematuramente tem mais chances de ser resolvido com êxito. Situações
temporárias trabalhadas na hora certa, não gerarão nenhum trauma ou lembranças
ao futuro adulto. Fica a dica!
*Fabíola Sperandio T. do Couto é graduada em Pedagogia pela UFG, especialista em Psicopedagogia e
Terapia de Família e Casais. Trabalha como diretora pedagógica escolar, com uma
experiência de mais de 28 anos em educação. É palestrante e terapeuta familiar
e de casais. Acompanhem também o BLOGhttp://fabiolasperandiodocouto.blogspot.com.br/