terça-feira, 28 de abril de 2015

Entrevista para alunas da Universidade Católica de Goiás - PUC

Pontifícia Universidade Católica de Goiás
Transcrição da entrevista 

Tema: Aprendizagem




Professora Denyzye Aleksandra Zacharias
Alunas: Camila P. Guareschi, Isabela Medeiros , Natalia Goldfeld e Victoria Moraes.
Entrevistado: Fabiola Sperandio T. do Couto - Diretora Pedagógica da Comunidade Educacional ‘ O Pequeno Príncipe/Studium’
Entrevistadora: Natalia Goldfeld

Natália -  Qual a abordagem de ensino que a escola utiliza?

Fabíola Sperandio  - A nossa abordagem é sócio-interacionista. O sócio-interacionismo é uma teoria de aprendizagem cujo foco está na interação. Segundo esta teoria, a aprendizagem dá-se em contextos históricos, sociais e culturais e a formação de conceitos científicos dá-se a partir de conceitos cotidianos. Desta forma, o conhecimento real do educando é o ponto de partida para o conhecimento global, considerando-se o contexto sociocultural. A teoria oportuniza a criança trazer sua bagagem de conhecimento, sua vivência, essa troca gera o conhecimento e o conceito. Quando aproximamos o conteúdo do dia a dia, isso faz com que a criança aproxime do que está sendo proposto e assim ela se sente uma participante proativa do aprendizado e se apropria do conhecimento, formando e compreendendo o conceito.

Natália - E sobre o método lúdico, vocês o utilizam na hora da aprendizagem?

Fabíola Sperandio - Uma maneira eficiente de trabalhar conteúdo e gerar aprendizagem é através das atividades lúdicas. A pedagogia aprimorou a sua didática investindo em estratégias que promovem o aprender de maneira prazerosa. Essas atividades exigem um planejamento cuidadoso. Não é um brincar por brincar. São jogos e dinâmicas criativas com começo, meio e fim recheados de objetivos. São atividades muito pensadas e elaboradas. Essas atividades estimulam as várias inteligências proporcionando um envolvimento do educando de forma significativa. É possível associar à aquisição do conhecimento/conceito valores éticos e morais. Essa interdisciplinaridade promove a formação de cidadãos muito mais conscientes dos seus deveres e de suas responsabilidades. Além dos ganhos já citados, um outro enorme ganho é a interação entre aluno e professor. A atividade lúdica oportuniza uma mudança do modelo formal de aula para uma aula muito mais interativa. Não só utilizamos desse recurso na própria sala de aula como criamos ambientes especiais para esses momentos: laboratório de Ciências, laboratório de tecnologia, sala de Arte, sala de Música, sala de Leitura, etc.

Natália - Os pais se preocupam com o método utilizado pela escola, eles estão sempre a par da situação dos filhos, como é essa relação família-escola? Os professores procuram muito os pais ou existem reuniões?

Fabíola Sperandio -  No início do ano, realizamos uma reunião com os pais explicando a didática pedagógica da série. Convidamos os pais para uma sala de aula, sentam no lugar dos filhos e a professora apresenta o currículo anual e as estratégias para o desenvolvimento do currículo escolar ao longo do ano letivo. A partir do momento em que a família conhece e entende o processo que o filho vai ser inserido, ela se interessa. O pai só pode ter dúvida do que ele conhece, então apresentamos para estimulá-lo a perguntar, criticar e envolver. Há uma abertura, porque nós acreditamos que a parceria família-escola é importantíssima, a família tem a obrigação da educação e a escola da escolarização.
Bimestralmente encontramos as famílias em um plantão pedagógico onde analisamos o desenvolvimento do educando. Diante dessa análise estabelecemos metas e estratégias. No outro bimestre avaliamos os resultados e traçamos novos desafios. Esse acompanhamento bimestral família e escola é essencial.
A escola também proporciona o contato da família com os profissionais a qualquer momento. Basta entrar em contato que agendamos um horário com a coordenação, diretores e professores.

Natália - Qual é o procedimento da escola com os alunos que estão atrasados em relação aos outros? E os que possuem alguma dificuldade de aprendizagem?

Fabíola Sperandio - Acreditamos em uma escola que faça a diferença na vida da criança/ adolescente. E fazer a diferença significa trabalhar pensando no indivíduo e nas suas necessidades. Dessa forma, não só desenvolvemos estratégias para os alunos que possuem alguma dificuldade como cuidamos do aluno mediano e do aluno avançado. Aproximamos do aluno e oferecemos exatamente aquilo que ele necessita para se desenvolver cada vez mais. São criadas atividades de reforço de conteúdo, de desafios, atividades motivadoras.

Natália - E você acha que o aluno que está além, ou aquele que está atrasado perante a turma, atrapalha os que estão na média?

Fabíola Sperandio - Não! A maior riqueza de uma sala de aula são as diferenças. Aprendemos com as diferenças! Então ninguém atrapalha ninguém! Precisamos usar com sabedoria essa oportunidade. As dinâmicas oferecidas oportunizam o aprender um com o outro. Todo mundo ensina e todo mundo aprende.

Natália - Você concorda com a inclusão de crianças com necessidades especiais, com alguma deficiência orgânica ou neurológica, como o autismo e outras síndromes?

Fabíola Sperandio -  Sim! Mas eu me preocupo muito com a falta de preparo dos profissionais. Inclusão escolar é a acolhida de todas as pessoas, sem exceção, no currículo escolar, independentemente de cor, classe social e condições físicas e psicológicas. O termo é muito associado à inclusão educacional de pessoas com deficiência física e mental. Recebo profissionais das diversas áreas entendendo a inclusão de uma forma que exclui. Isso me entristece.
            Temos vários exemplos de alunos que tiveram muito sucesso em outras instituições após concluir todas as  etapas oferecidas em nossa escola, porque foram trabalhados de forma inclusiva. Oferecemos ferramentas de aprendizagem que foram aplicadas na aquisição do conhecimento e na vida cotidiana. Tenho artigos falando sobre isso. Desejo que leigos e profissionais da saúde e educação entendam as necessidades das crianças.
            Vejo a inclusão não só para quem tem laudo de autismo, TDAH, etc. Todo mundo em algum momento da vida pode precisa ser incluído: em um momento da separação dos pais (dor emocional), luto em família, uma criança com hipoglicemia (possui falta de atenção nos momentos de crise), um adolescente que não consegue se encontrar no esporte, entre outros.

Natália - A escola proporciona um acompanhamento de um psicopedagogo ou um psicólogo para os pais?

Fabíola Sperandio - Sim, quando percebemos que a escola tem suas limitações. O profissional não pode vir para cá para clinicar, aqui não é uma clínica, aqui é uma instituição, por mais que tenha uma psicopedagoga, uma psicóloga, que tenha qualquer profissional, aqui temos que agir como instituição, temos que preparar, mediar a família, escola, preparar o professor para trabalhar com aquele aluno. O aluno individual tem que ir para a clínica. Na escola vamos trabalhá-lo no grupo; quando sentimos que tem uma especificidade, que é preciso ser trabalhada no campo emocional, no campo da aprendizagem, encaminhamos para um profissional e pedimos para esse profissional criar laços com a escola. Por quê?  Porque o psicólogo ou o psicopedagogo vai observar no individual e juntos vamos casar as informações. Esse casamento é importante, mas quando percebemos que o aluno precisa de algo mais, que vai além dos nossos limites, procuramos uma fonoaudióloga, neurologista, uma psicóloga, um psicopedagogo. É uma coisa bem natural.

Natália - E qual o procedimento com os alunos que não alcançaram a média necessária para passar de ano?


Fabíola Sperandio - Para os alunos que não estão alcançando média, realizamos um acompanhamento chamado recuperação paralela. Lembra quando falei dos encontros com os pais? Então, nesses encontros traçamos metas na escola e para casa de recuperação de conteúdo. Recuperando o conteúdo, consequentemente o aluno recupera nota. Investimos muito no preventivo incentivando para o estudo, proporcionando encontros de orientação para formação de hábitos de estudo. Acompanhando os resultados temos condições de avaliar as estratégias propostas e ajustá-las.