quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Como não transformar a minha criança em vítima de si mesma.

Como não transformar a minha criança em vítima de si mesma.






Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais

     A cada dia nos deparamos com adultos que se vitimizam o tempo todo. E como Terapeuta Familiar, sempre busco a origem dessa vitimização. Percebo que esse é um papel apreendido, seja com o adulto que está próximo ou por algum momento que, ao se vitimizar, obteve ganhos.

    E como trabalhar essa questão com os nossos pequenos? Primeiro, analise a ação dos adultos que convivem na rotina da criança. Caso encontre alguém que promova esse exemplo, trabalhe paralelamente esse adulto. A ação precisa ser conjunta.
Adultos queixosos ou cheios de justificativas para suas ações acabam por promover nas crianças o mesmo comportamento. Exemplo: “Não consigo fazer isso porque eu nunca tive quem me ensinasse”; “Sou antissocial porque meus pais nunca permitiram que eu me aproximasse das visitas”; “Não sei abraçar porque não tive colo”. Essas falas remetem ao receptor um sentimento de compaixão, e externar esse sentimento, seja de forma verbal ou corporal, enviará a mensagem ao emissor, de reforço negativo. Esse reforço produzirá um aprendizado que ter sofrido gerou uma empatia e a empatia gerou algum ganho. Compreende? Um verdadeiro círculo que produz uma postura de acomodação e que acabará por gerar uma autoestima baixa.

     Percebendo que a sua criança está com uma tendência a ser “reclamona”, o primeiro passo é conversar sobre a queixa e promover uma reflexão de compreensão da situação. Exemplo: “Você nunca deixa eu dormir na minha amiga, mamãe”, “Eu nunca posso nada!”. Diante dessa queixa, a criança traz sentimento de injustiça, incompreensão da regra familiar, tristeza por não ser atendida, sensação de ter uma mãe má. Detectado o sentimento, o próximo passo é verificar se as regras familiares estão claras e empregadas por todos os responsáveis. Afinar o discurso entre o casal ou responsáveis é de suma importância para a saúde da criação. Percebendo divergências, a criança começa a articular esse movimento em prol do atendimento das suas vontades.

     A partir dessa análise, a mudança da ação precisa ser diária e consistente: adultos e criança. Somente dessa forma será possível gerar mudança. Para entender o caminho proposto aqui, basta observarmos que tipo de expectativa entre o senso do que é justo e saudável estabelecemos ao longo de nossa existência baseada em nossas vivências infantis. É bem interessante quando nos percebemos com dó de nós mesmos. Quantas oportunidades perdemos por nos acharmos incapazes ou infelizes o suficiente para usufruirmos de algum tempo livre, nos candidatarmos a algum emprego, sermos cortejados por algum pretendente de quem não nos achamos à altura, receio de inscrevermos em algum curso, entre outras tantas ações, atitudes estas oriundas do exercício de vitimização na infância. Não queremos isso para os nossos filhos, não é mesmo? Então, mão na massa!

 Nada de cair nas chantagens deste pequeno ser que experimentou essa estratégia e que percebeu que, de repente, ela deu certo!



quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Imaginário Infantil

Imaginário Infantil: o que temos feito com ele?



Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais

Tenho me preocupado com as nossas atitudes em relação ao imaginário infantil. Será que a realidade atual está permitindo com que as nossas crianças possam utilizar a riqueza desta ferramenta?
Vivemos uma situação atual de muita incompreensão diante de uma criança criativa e imaginativa. Agimos como se fôssemos responsáveis em puxá-las para realidade adulta. Vamos pensar um pouco: criança tem que ser criança, certo? Precisa criar, dramatizar, cantarolar e aos poucos ir transitando entre a emoção e a razão. A construção do pensamento racional será feita à medida que ela for crescendo. Isso significa que permitir à criança criar, ler histórias infantis e eleger heróis não a fará infantilizada posteriormente. Ela apenas consegue sonhar acordada e ainda partilhar com os amiguinhos reais e imaginários, mas depois entenderá quem são os verdadeiros heróis.
Esse movimento infantil permite a ampliação do vocabulário, aguça a curiosidade infantil e ainda proporciona repertório para que possa, futuramente, ser autora de suas próprias histórias. Esta riqueza tem sido confundida no ato de educar de muitos pais quando os mesmos acusam a criança de ser mentirosa ou dramática ao contar para família experiências recheadas de invenções. O medo familiar em não conseguir trabalhar valores está tão exacerbado e confuso que estamos perdendo a riqueza infantil. Frases como: Isso não é verdade! Você está mentindo! Pare de inventar! estão sempre prontas em nossa boca.
O equilíbrio está exatamente em olhar para esse ser com a idade que ele tem. Não é porque as nossas crianças estão espertas e além da nossa época que isso nos faz agir com elas como se fossem mais velhas. As crianças precisam ser tratadas e respeitadas conforme a fase em que se encontram.
A literatura infantil traz elementos em seus contos de fadas, por exemplo, que muito contribuirão no desenvolvimento das nossas crianças: dilemas existenciais descritos de forma simplificada e com leveza. Isso proporciona ao leitor aprender a lidar com situações que aparecerão em sua vida: medo, angústia, perdas, conflitos. O imaginário agirá no subconsciente dando recursos de sobrevivência às dores emocionais e a tomadas de decisões.
Antecipar as fases tem prejudicado muito o desenvolvimento das nossas crianças e precisamos acordar para isso. E voltando ao imaginário, estamos em plena época de Natal... O que você programou para aguçar o imaginário da sua criança envolvendo o Papai Noel? O que o Papai Noel representa para a sua família? Já pensou em transformar essa figura, muitas vezes trazendo só bens materiais (brinquedos, eletrônicos e hoje até dinheiro em envelopes), em uma figura que possa trazer mensagens de reflexão? Um Papai Noel que incentive os estudos e a participação da família para um mundo melhor? É, podemos apresentar um Papai Noel que aguce a vontade das nossas crianças para pensar em ações que permitam uma mudança social, sem perder a alegria do presente que receberá também. Afinal, a criança aguarda muito este momento.
Uma criança com riqueza no imaginário é uma criança mais feliz. Dar asas para sonhar, fazer e acontecer é colheita certa de uma mente mais resistente às castrações futuras. Segundo Fanny Abramovich, “O ouvir histórias pode estimular o desenhar, o musicar, o sair, o ficar, o pensar, o teatrar, o imaginar, o brincar, o ver o livro, o escrever, o querer ouvir de novo (a mesma história ou outra). Afinal, tudo pode nascer dum texto!”.
Terminarei esta reflexão com um convite! Que tal tirar uma horinha do seu dia para ler com a sua criança, diariamente? Permita-se dar asas ao seu imaginário também. Relembre as histórias que você ouvia e mergulhe nesta aventura. Desta forma, vocês irão construir um vínculo em um momento lúdico que facilitará futuramente quando precisarem conversar sobre as etapas racionais da vida.

Falando em imaginação e ludicidade... Você já escreveu a sua cartinha para o Papai Noel?


segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O lado bom da crise econômica na formação das nossas crianças.








O lado bom da crise econômica na formação das nossas crianças.


Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais



O momento é delicado, sofrido e muitas vezes desperta sentimentos ruins em nós: crise econômica! Como lidar com essa crise sem que afetemos tanto as nossas crianças? Elas são capazes de entender e aprender, basta sabedoria de nossa parte. E como adquirir sabedoria em um momento a que também estamos nos adaptando?
Tudo que surge em nosso mundo adulto precisa ser refletido e digerido antes de deixar as crianças participarem. Hoje presencio pais se aconselhando com as crianças. Triste, né? Com isso nossas crianças estão sendo obrigadas a amadurecerem muito cedo, sem o mínimo preparo cognitivo e emocional.
A crise econômica está aí para nos desafiar em nossa missão de sermos pais assertivos. Se encararmos todas as situações como oportunidades de ensinar algo para os nossos filhos, essa missão se tornará menos pesada.
O primeiro passo é rever os nossos próprios valores, afinal só conseguimos fazer com que o outro entenda o que ensinamos se estamos seguros em nossa fala e se a nossa prática corresponde com a nossa teoria. Então, nada de “pregar” o que não irá fazer como exemplo.
Desenvolver o conceito do que é necessário e o que é desejo será o nosso segundo passo. Explico: a criança precisa desenvolver o conceito do que ela necessita e do que é uma simples vontade ou modismo. Se exercitamos esse pensar, teremos muitas chances de promover a sua formação voltada para o SER, totalmente desfocada do TER.
Os pais muitas vezes afoitos em gerar momentos felizes aos nossos filhos, acabam por comprar o que ela aponta em uma determinada loja sem ao menos refletir se é algo que contribuirá para o desenvolvimento de seu filho ou algo que irá alegrá-la momentaneamente. Já perceberam que o interesse da criança passa rápido? Mudar o foco da compra pode ser um bom exercício para a sua percepção. Você irá perceber que o interesse muitas vezes é momentâneo e por isso ela abandona tão rapidamente o brinquedo adquirido e já parte para pedir outro. Ela aprende a ter prazer em comprar e não em brincar. Nasce então, mais um consumista neste mundo tão recheado de pessoas focadas no ter e aparecer.
        Ter e aparecer? É, infelizmente, nossos bebês estão aprendendo a comprar e mostrar. Ele sente prazer em comprar, depois sente prazer nos comentários sobre o que comprou e, quase que imediatamente deseja ter esse prazer de novo. Pareceu viciante? Verdade! Consumismo vicia.  Queremos nossos pequenos viciados em prazeres breves? JAMAIS ! Hoje o prazer é em TER e amanhã? Prefiro nem imaginar os vícios que poderão surgir para gerar pequenas satisfações.
        Outra situação muito vivenciada nos dias de hoje é a compensação de algo que a criança fez com dinheiro. A criança ajudou em casa, recebe dinheiro. Tirou nota alta? Lá vem mais um dinheirinho. Essa atitude da recompensa financeira tem gerado crianças muito focadas no dar para receber. Faço se me pagar. Estamos transformando, sem querer, os nossos filhos em verdadeiros avarentos, completamente focados no dinheiro. E como recompensar financeiramente em tempos de crise? Pois é, se eles aprenderam a colaborar se receberem dinheiro, como irão colaborar com o economizar?
        Por isso devemos cuidar muito da educação de nossos filhos voltada para a formação de um pensar consciente, mostrando os valores importantes da família focados na contribuição dos deveres e rotinas familiares, na importância da reflexão sobre aquisições que envolvam finanças, mostrar o que é importante para família e o que é vontade de consumir, falando sobre o momento de adquirir e o momento de retrair.
        Falar sobre o momento econômico do país, explicar sobre políticas públicas e destilar toda a sua ira sobre o atual momento não construirão absolutamente em nada no crescimento da criança, ela se sentirá impotente e não poderá mudar esse quadro, é distante dela essa realidade. Fazê-la entender a “crise econômica” ou o momento de prosperidade será essencial para que ela cresça equilibrada e certa de como agir consciente e madura nesse mundo que a impulsiona a cada segundo a ser uma consumidora compulsiva.




segunda-feira, 16 de novembro de 2015

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Por que insisto em comparar o meu filho com o filho da minha melhor amiga?





Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais


Mal a criança nasce, já podemos perceber a inquietude dos pais em observá-la e compará-la com as crianças mais próximas da família. Por que precisamos agir assim? Provavelmente porque buscamos parâmetro e porque somos inseguros e muito competitivos também. O certo é que são raras as pessoas que não caem nessa tentação de acreditar na “normalidade” do filho a partir da comparação com o outro do outro.   
Sabemos que ao longo da sua vida infantil, é muito comum que a criança, em determinado momento, apresente uma dificuldade ou uma facilidade em alguma etapa de sua vida, se comparada à maior parte delas na sua idade. Claro! Somos diferentes! Cada criança terá o seu movimento de crescimento, o seu tempo de amadurecimento e, embora os escritos científicos norteiem o que acontece em cada fase, essas orientações não são determinantes e inflexíveis. Cada lar, com seus hábitos e costumes, será determinante para desenvolver características únicas de crescimento da criança. 
A sua melhor amiga poderá exemplificar que o seu filho andou aos 10 meses, mas isso não poderá trazer angústia caso o seu filho ainda leve de três a quatro meses para alcançar tal façanha. O mesmo ocorre com a fala. Já acompanhei crianças que levaram mais de 2 anos para começarem a falar. O desenvolvimento aparentemente tardio, poderá ficar invertido se as mesmas amigas continuarem juntas no período escolar. Poderão perceber que as diferenças dos filhos se inverteram, por exemplo, o que foi desenvolto no início da infância, agora demostra dificuldade ao ler e escrever. É preciso esclarecer que nada disso é critério para medir inteligência, síndromes, doenças, a não ser que haja uma diferença bastante significativa e a observação vá além dos muros da família, estendendo à escola e demais ambientes frequentados. 
Vários são os fatores que podem frear a evolução do aprendizado de uma criança pequena: chegada de um novo irmãozinho, mudança na rotina familiar, separação dos pais, saúde que requer muitos cuidados, isso sim pode exigir uma maior atenção na formação cognitiva da criança (ato de processar o conhecimento envolvendo atenção, percepção, memória, raciocínio, imaginação, pensamento, juízo, linguagem e ação). É bem normal uma criança retomar hábitos de bebê quando o irmãozinho chega (voltar para fraldas ou retomar a mamadeira) ou quando os pais se separam, por sentirem-se inseguros. 
Quanto mais naturalmente a família agir, mais rápido a criança retomará seu crescimento. Como o adulto que, em situações estressantes, requer compreensão e auxílio, a criança também precisa de cuidados.  Esses cuidados precisam ser trabalhados para a retomada dos hábitos sadios. Não devemos ter atitudes de compaixão que soarão como ganho secundário da atitude regredida. Se a família se sentir culpada por algo, a criança entenderá o sentimento e acabará por ter ganhos. É verdade! Mesmo pequenos são capazes de nos manipular. 
Permitir à criança expressar que algo não está bom facilitará a compreensão e norteará o caminho para a solução. Olhar para essa criança enviando sinais de que a está entendendo e não a vê como uma criança problema, também facilitará o processo. Muitas vezes a criança apresenta a queixa, mas os problemas encontram-se nos familiares que convivem com ela. 
Se visualizarmos a criança de hoje, inserida em um lar onde os adultos não as poupam de nenhum assunto, podemos concluir que a sua imaturidade, própria da sua idade, a impedirá de digerir, assimilar, processar e seguir em frente diante dos problemas familiares expostos.  Na instituição escolar, nos deparamos com crianças que apresentam atitudes agressivas ou de retração e, ao investigarmos, acabamos por perceber como estão afetadas emocionalmente, deixando muito evidente que o atraso do desenvolvimento não tem ligação nenhuma com ausência de capacidade de aprendizagem e sim, uma falta compreensível de maturidade para lidar com as emoções geradas em seu meio familiar. Dessa forma, fica muito injusto compararmos o desenvolvimento das crianças em qualquer fase de sua vida.  O filho de sua melhor amiga está inserido em um contexto completamente diferente do seu.  
Então, você pode estar se perguntando: no que diz respeito ao desenvolvimento do nosso filho, como devemos proceder?  Precisamos recorrer aos profissionais que asseguram o conhecimento de cada etapa em que nosso filho se encontra: pediatra, pedagogo, psicólogo, terapeutas, neuropediatra e o principal, ter a consciência de que, enquanto estou focado no filho do outro, deixo de ver o meu filho em sua essência, em suas necessidades.  
Observar a dinâmica familiar é de suma importância para o crescimento saudável da criança. Não me surpreenderá se ao analisar o ambiente em que a criança está inserida, a família chegue à conclusão de que quem precisa de ajuda são os cuidadores da criança.  A terapia familiar revela grande parte do caminho saudável do desenvolvimento do filho.  Não se acanhe em buscar ajuda quando a dúvida invadir sua vida e tirar a sua paz diante de qualquer situação com seu filho. Tudo o que é acudido prematuramente tem mais chances de ser resolvido com êxito. Situações temporárias trabalhadas na hora certa, não gerarão nenhum trauma ou lembranças ao futuro adulto. Fica a dica!  













*Fabíola Sperandio T. do Couto é  graduada em Pedagogia pela UFG, especialista em Psicopedagogia e Terapia de Família e Casais. Trabalha como diretora pedagógica escolar, com uma experiência de mais de 28 anos em educação.  É palestrante e terapeuta familiar e de casais. Acompanhem também o BLOGhttp://fabiolasperandiodocouto.blogspot.com.br/


quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Filho único

Filho único




Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais



Talvez você tenha se sentido atraído para esta leitura pensando que aqui seria discorrido sobre uma série de desvantagens de ter um filho único. Não trilharei este caminho.
Acredito que baseados em nossos ensinamentos que latejam em nosso inconsciente, somos, muitas vezes, repetidores de argumentações contrárias à opção de gerar um único filho. Porém, temos que levar em consideração que deparamos com filhos únicos oriundos de diversas situações: viuvez de um dos cônjuges, separação de casal, impossibilidade de ter outro filho pela genética ou pelo financeiro, “produção independente” ou opção mesmo.
O filho único tem todas as chances de aprender a socializar-se, dividir, ser generoso, cortês, companheiro da mesma forma do que se tivesse irmãos em casa. Por quê? Porque o filho único está inserido na família com primos, inserido no prédio ou bairro com amigos; e, sobretudo, participa do convívio escolar, local onde   promove o convívio igualitário e estimula a troca entre os indivíduos.
Quanto à  fama de que filho único é mimado,  é preciso fazê-los pensar que quando uma família possui atitudes de mimar a  criança, ela faz isso independente de ter um ou mais filhos. Vale ressaltar que muitas vezes nos deparamos com primogênitos ou caçulas muito mais cheios de vontade do que alguns filhos únicos.
A família de filho único não precisa compensar a ausência de irmãos. Está aí muitas vezes o erro. Uma eterna culpa que muitos genitores carregam que só atrapalha. Precisamos estar bem com as nossas escolhas ou possibilidades, porque estando feliz com um ou mais filhos, a chance de acertar na relação é muito maior.
 Não existem formas de lidar com os filhos ou com o filho único, existem sim necessidades e formatos diferentes. Exatamente porque são crianças com as suas individualidades e isso independe da quantidade de filhos. Encarar a escolha de ter um ou mais filhos é o melhor caminho para encontrar acertos na criação. Com a cabeça livre de fantasmas sobrará mais tempo para pensar e criar estratégias de convivência saudável.
Existem famílias que se sentem obrigadas a corresponder às expectativas da sociedade. Acham que precisam seguir a “ditadura” conceitual de modelo de família. Precisamos nos sentir livres da ideia de que ter um filho ou até não tê-lo  não pode ser um determinante para aceitação social ou para saúde emocional.
         Algumas pessoas defendem a redução do número de filhos,justificando condição financeira. Não vou me pautar por esse caminho porque não penso desta forma. Quem tem o desejo de ter filhos e os tem, com certeza até se sentiria muito capitalista se fosse justificar a quantidade pelo gasto de investimento. Filhos não custam caro. Nunca!  Eu os vejo sempre com o olhar do ganho que eles nos proporcionam de amadurecimento pessoal e espiritual. Então, mesmo com teses que defendem a redução de números de filhos associadas à   ascensão da mulher moderna no mercado de trabalho e no alto custo financeiro gerado, eu me recuso a ir por esse viés, mas respeito todos que pensam e escrevem partilhando dessa preocupação atual.
         
          Existe um ganho que as famílias de mais de um filho precisam aprender com os pais de filho único. Os pais acabam favorecendo o convívio com ele. Não há um pensamento de que o filho está com o irmão brincando, então estou livre para fazer outra coisa. Pais de um só filho se preocupam mais em marcar presença. Focam mais em seu filho, aproximam-se  e permitem  que ele acompanhe com maior proximidade a sua rotina. Com essa rotina de aproximação, pais e filho ampliam sua vivência e crescem muito juntos.
         
          Alguns filhos únicos se sentem tão completos que nem cobram irmãos. Outros se sentem tão amados que também gostariam de ter um irmão para usufruir do amor dos pais junto com ele. Com isso, temos filhos únicos que não cobram a continuidade da família, mas também temos os que cobram dos pais que tenham mais filhos. Essa situação só se tornará um problema se não houver transparência dos objetivos e metas familiares. Se a família está segura quanto à decisão ou  imposição da natureza (caso haja o desejo associado à impossibilidade), todos entenderão e conseguirão seguir com harmonia e alegria.
        
        O período que requer mais atenção de pais de único filho, acredito que seja a chegada da adolescência. A mistura de sentimentos e a busca da identidade muitas vezes traz a introspecção e a família precisa entender esse processo. Entender significa compreender o momento, mas jamais deixar de ser pai para ser amigo. Não é isso que o adolescente precisa. Serem pais passando segurança, oferecendo exemplo e presença é muito importante nesta fase. Oferecer um colo para confidências significa permitir a partilha de suas angústias para alguém que precisa ser o porto seguro sempre.
          
       Outro aspecto que percebo como muito angustiante nas famílias que atendo de filho único é o receio do filho se deparar com a morte dos pais e se sentir sozinho. Então eu pergunto: ter irmãos garante a companhia eterna? A família precisa dedicar-se  à criação de um vínculo saudável e que propicie o crescimento autônomo. É impossível prever o que acontecerá com a nossa família, independente se ela é grande ou pequena. Com a ausência dos pais, ter irmãos permite partilhar o luto, mas seria apenas uma parte dessa experiência dolorosa e não ela por inteiro.

         Se a opção foi um ou mais filhos, o importante é buscarmos a sabedoria para crescermos na convivência. Lutar para ter um lar harmonioso e recheados de momentos felizes, em meio às obrigações cotidianas, é o que nos realizará no final.

         Que sejamos pais livres das paranoias sociais! Viva a liberdade de escolha e a tranquilidade de lidar com aquilo que não podemos escolher.


quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Crianças Manipuladoras

Crianças Manipuladoras





Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casai


           “Eu fico com a pureza e a resposta das crianças: É a vida! É bonita e é bonita!”
          O nosso querido Gonzaguinha compôs uma música cuja frase chave é essa acima. Com ela, podemos interpretar que TODA criança é pura na visão do compositor, mas contrariando a bela letra que já cantarolamos inúmeras vezes, tenho que alertar que existem crianças más e manipuladoras. E, infelizmente, muito mais do que possamos imaginar.
       Se os adultos da relação somos nós, por que nos deixamos manipular ou não as percebemos? Vamos lá!
          Nós nos envolvemos emocionalmente com as crianças. Elas são meigas fisicamente, possuem uma voz doce e sabem piscar os olhinhos como ninguém quando desejam algo. E como nos derretemos por elas. Assim, fica difícil perceber quando elas mentem, criam, inventam e, muitas vezes, transformam a nossa vida em um caos.
         Adultos muito ocupados possuem a tendência de não verificar as versões dos fatos e já assumem o que a criança conta como verdade absoluta e saem fazendo aquele estrago na família, escola, condomínio onde moram, etc. Inocência dos responsáveis? Omissão? Comodismo? Seja qual for a palavra escolhida, na verdade, precisamos acreditar que podemos ser manipulados por crianças de 2 anos, por exemplo.
        Um dia pude acompanhar um caso bem intrigante. A família recorria à escola de seu filho com bastante contrariedade, alegando que seu pequeno estava sofrendo perseguição de colegas. A escola se prontificou a investigar a situação. Na devolutiva à família, foi pontuado que o filho estava com uma postura provocativa, o que gerava a reação dos colegas. Os pais, bastante revoltados, acusavam a escola de não cumprir com competência seu papel, acreditavam que seu filho era vítima de maus tratos dos colegas gratuitamente. O filho, percebendo o movimento defensivo dos pais, mostrou-se contrariado com a escola e solicitou a mudança da instituição. O mesmo foi transferido para outro ambiente escolar. Não demorou muito e a história se repetiu na outra escola. Os pais ainda não conseguiram enxergar o comportamento do filho e, novamente o transferiram de escola. Entre essas saídas e matrículas, a mesma criança também fazia severas queixas de perseguição sobre a síndica do prédio onde morava. A família se posicionava bravamente contra as regras e atitudes da síndica, que sempre penalizava o pobre filho. Percebendo a atitude defensiva sem confirmação da veracidade das histórias, o pequeno manipulador de 5 anos agora estava acusando a empregada de não lhe oferecer guloseimas após o almoço. E ainda foi além, a acusava de comê-las na sua frente. Isso resultou na demissão da funcionária de 4 anos de trabalho com essa família.
        O que acordou essa família? Uma viagem com amigos para praia. Juntos por 24 horas, os pais tiveram tempo, longe dos afazeres e entregues ao lazer, de ter a real percepção da personalidade do filho. Tudo começou ao observar, de longe, a resistência do filho às regras das brincadeiras com os filhos das famílias de amigos presentes na viagem. Depois, ver o filho maltratando o salva-vidas da praia foi triste, mas muito mais chocante, foi ouvi-lo narrar o que houve entre ele e o salva-vidas, uma vez que não sabia que os pais estavam por perto ouvindo e vendo tudo. Quanta dor e arrependimento por terem maltratado tantos profissionais sem a mínima razão. Depois, quanto tempo se perdeu reforçando o comportamento deste ser tão cheio de vontades más.
       Observar o comportamento das nossas crianças é muito importante. Crianças que maltratam animais, acham graça da dor do coleguinha, demonstram possessividade nas amizades, fazem dengo para conseguirem o que desejam ou se entregam a birras e emburramento, precisam de orientação e cuidados.
       Percebo a manipulação também quando os pais são separados. Se os pais não se unirem pela criação dos filhos através das trocas e diálogos, correm sérios riscos de serem manipulados. Neste caso, os ganhos secundários com a separação podem transformar os filhos em verdadeiras crianças cruéis. Na fase adulta, deparamo-nos com pessoas manipuladoras, maldosas, mentirosas, que culpabilizam o outro e podem ter aprendido essa conduta ainda bem pequeninas.
        Atenção às pequenas mentiras e transferências de culpa. Uma criança que está com uma tesoura na mão e nega que cortou a cortina, mesmo com todas as evidências, precisa ser acolhida e orientada. Achar engraçadinho e fingir que caiu em seu teatrinho, só a conduzirá para um comportamento de desvio de conduta.
         Alguns filmes retratam comportamentos destrutivos, raivosos, maldosos de crianças, mas, como aprendemos que crianças não mentem e são puras, fechamos os olhos, erroneamente, para essa possibilidade.